Saturday, March 26, 2005

Um limão e um palito

Reentro no hotel, dirijo-me à recepção e peço um limão e uma seringa. Olham-me com desconfiança e, após exagerada procura, dizem-me que apenas dispõem do limão. Já era de prever! Peço um palito que servirá para o mesmo efeito e (re)subo ao quarto (Um limão e um palito? Muito estranho!).
O hotel é bom. Tem tudo. Tem pente, escova de dentes e máquina de barbear, mas não tem fósforos. Sem fósforos nada faço (Um limão, um palito e fósforos?!). (Re)desço. Passo por alguém na descida. Uma mulher alguma. Um perfume independente. Do you have light?. Completamente ignorado prossigo com a descida enquanto massajo o meu ego: Tenho que aprender um inglês mais British! Tenho de aprender inglês...
Na recepção dão-me os fósforos e (re)subo seguindo o perfume independente que já lá não está. Demasiado volátil!
Dentro do quarto com a televisão a difundir imagens ali desfocadas (Um homem não chora, rais me partam!) inicio a minha primeira experiência com a coisa (A primeira é sempre a medo, depois torna-se um vício!).
Corto o limão em dois e espremo-o para um dos copos que deveriam servir o whisky. Uma metade. Duas metades. Nada me interessa exceptuando as duas metades de limão agora poisadas sobre a mesa. Vejo-as como dois bonitos seios disponíveis para mim. Só para mim. Que privilégio! Pego em cada um deles com carinho, sempre com carinho, e com todo o carinho do mundo coloco-os no lixo.
Imagino o teu nome em maiúsculas e dou-me ao papel. O copo com o limão na mão dos copos e o palito firme entre os dedos da mão das escrituras. Banho o palito que está na mão das escrituras no limão que está dentro do copo que está na mão dos copos e rascunho letra a letra o nome todo teu, maiúsculo. O papel continua branco como branco era e o teu nome está todo lá. Pego na caixa dos fósforos na mão dos copos, tiro um fósforo com a mão das escrituras e raspo-o na lixa como se me raspasse em ti. A arder, coloco-o por trás do papel que milagrosamente exibe o teu nome em castanho na branquitude daquela folha. Estava feita a experiência, a minha primeira experiência com a coisa (sou ainda melhor que o MacGyver, diga-se!).
Dobro cuidadosamente a folha das experiências e coloco-a, com carinho, com o maior carinho dos mundos, entre os peitos de metades de limão feitos dando corpo a tudo aquilo. A partir daí dei-me como sempre me dei. Integralmente. Estranhamente, passei o palito com limão em toda a plenitude de uma nova folha. Átomo por átomo com o meu movimento autónomo. Quando me senti realizado, meti a folha branca com todos os escritos invisíveis dentro de uma carta e enviei-ta. Esperei que em casa acendesses tu o fósforo com as mãos das manicuras... anda hoje espero!
Agora, quando (re)entro no hotel, todos me olham como se olha um drogado. Não conseguem é explicar muito bem o que andou a fazer um palito no meio de toda a história.

8 Bocas:

Anonymous Anonymous Disse...

HUM...HUM...!!!

12:00 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

outra coisa que se pode fazer com um limão e um palito (isto em nome da conservação do limão):
Se for usar apenas algumas gotas de suco de limão, não desperdice a fruta toda. Faça um buraquinho com um palito e esprema a quantidade desejada. Depois volte a guardar o limão no frigorifico.

2:36 PM  
Blogger Kid A Disse...

Ah! Ah! Ah! És um espectáculo. Bem visto!

2:40 PM  
Blogger Kid A Disse...

Ah... E já estava a sentir a falta dos teus comentários.

2:53 PM  
Blogger leslie Disse...

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10:51 AM  
Blogger leslie Disse...

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10:53 AM  
Blogger Temp Disse...

Uma prova de amor ao limão... É um rôto esse Kid A!

9:40 AM  
Anonymous Anonymous Disse...

Obrigado por Blog intiresny

4:26 AM  

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